quinta-feira, 30 de setembro de 2010

MUDANÇAS PARA AGARRAR O ELEITOR

Candidatos mudam perfil, discursos e até posições políticas em busca de voto


* por Anderson Gaieski

A vontade de muitos brasileiros é de ocupar um cargo político no país, mas poucos conseguem se candidatar e, este número cai ainda mais quando o assunto é comandar o Brasil. A disputa política sempre foi marcada por partidos opostos. Ambos planejam e, discutem todo o cenário político, além de analisar todas as possibilidades que o futuro concorrente a Presidência da República possui para se eleger. A partir deste momento tudo vira motivo para desenvolver estratégias para convencer o eleitorado e levar às siglas partidárias a conquistar com êxito seu objetivo.

A população que decide a eleição não é mais a mesma que da década de 90 que por muito tempo foi utilizada como modelo pelos “marqueteiros” dos partidos que almejavam vencer uma candidatura na qual estavam trabalhando. A mudança da percepção dos eleitores foi gradativa, mas aconteceu. Eles estão mais atentos aos candidatos e também à plataforma eleitoral de cada um deles. O brasileiro adquiriu ao longo destes 20 anos mais maturidade para diante do poder de escolher melhor quem vai governar o Estado ou o país.

A agente de viagens e guia turística Carla Botelho, freqüenta as comunidades carentes do Rio de Janeiro para apresentar aos visitantes estrangeiros os projetos sociais da cidade. Devido ao contato próximo com a classe baixa, alvos dos políticos em época de eleição, a jovem de 32 anos afirma que a mentalidade da população mais necessitada mudou e pode ser percebida através de pequenas conversar e atitudes:

“-Ô Moça, não adianta mais chega aqui e trazê um pé de sapato e dizê que vai dá o outro depois da eleição! A gente qué água no cano e escola pras criança! – Escutar isto de pessoas em áreas pobres da cidade me faz entender que a demagogia e o discurso vazio que antes funcionava bem em época eleitoral, está com os seus dias contados”

Já o produtor de eventos, Beto Junior, de 39 anos, percebeu alteração nos discursos dos candidatos:

- Antes da era Lula, as únicas campanhas eleitorais que se preocupavam em reivindicar mudanças no campo social, eram as de oposição. Agora, com um governo que consolidou a sua posição tendo como marca as transformações e investimentos nas políticas de transformação social, vê-se a campanha de Jose Serra – ex candidato da situação – tomar como base o investimento em programas sociais para tentar abocanhar uma parcela da sociedade antes desprezada.

Com a mutação de pensamentos e das ideologias dos eleitores, quem agora precisa correr atrás de novas alternativas para que o discurso seja afinado e convincente, são os profissionais de marketing dos partidos que precisaram se reciclar para continuarem arrecadando votos.

A novidade nesta eleição parece ser a coincidência entre os três candidatos mais bem cotados nas pesquisas eleitorais para presidência do país. José Serra virou Zé, amigo do povo. Dilma Rousseff se transformou em Dilma, a mãe do povo. Marina Silva coube o papel de anunciar o apocalipse do planeta. Eles foram submetidos a um processo visível de reconstrução de imagem para tentarem ser eleitos e administrar o país.

É inevitável que os candidatos tomem uma nova postura depois que seus nomes foram homologados na Junta Eleitoral (TRE). De acordo com o “marqueteiro”, Vespa, que trabalha há 15 anos neste seguimento de construção de carreiras políticas:

- O modo com que a informação chega até a população é rápida e as ações devem ser tomadas com agilidade. Hoje, é imprescindível que o candidato se aproxime ao máximo de quem decide a votação. A maneira de agir, falar, de se comportar, as expressões corporais e até mesmo o vocabulário sejam modificados para atingir mais facilmente a identificação com o eleitorado daquela região onde a campanha esta sendo executada.”

A transição de postura, tanto da população quanto dos candidatos ao Palácio do Planalto foi uma evolução dos tempos.

Segundo a historiadora, Maria Regina Pint , de 64 anos, dois momentos marcaram a política nestas últimas duas décadas: - Durante o período da campanha eleitoral para a re-eleição de Fernando Henrique Cardoso, uma vez que o grande mote eleitoral, a estabilização econômica (mesmo que irreal no contexto da época) já estava contemplada, restava apenas, para combater às críticas da oposição ao seu governo, começar a planejar transformações e propor investimentos efetivos no campo social.

Quando não o presidente não consegue cumprir as promessas de campanha de investimentos na área, não faz o sucessor e abre o flanco para a primeira eleição de LULA que já pleiteava pela terceira vez o cargo de presidente da república.

Ao final do segundo mandato do presidente, vê-se um total direcionamento das campanhas eleitorais para as transformações no campo social como forma de melhorar a qualidade de vida das pessoas. As campanhas de oposição chegam ao ponto de lançar plataformas de governo que sequer mencionam outros pontos que não sejam investimentos no campo social.

Nota-se claramente uma total inversão de valores, antes o clientelismo e a busca pela estabilização econômica dominavam o cenário – agora os investimentos na melhoria de qualidade de vida em longo prazo, e quem sai beneficiado é o povo porque consegue pleitear com mais clareza um mandato voltado para atender as suas necessidades mínima -, concluí, Maria Regina.

Com isto a legislação que rege e determina o que pode e o que não pode nas eleições também teve que ser alterada. As novas tecnologias, como, a internet ampliou a abrangência das campanhas, assim, facilitando a rapidez das propostas dos candidatos.

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